sábado, setembro 16, 2023

Uma alma aflita

A ALMA AFLITA
(Lucivaldo Silva)

Enquanto nada solitária e muda
Num mar de força bruta
Que só lhe debilita,
Alguém escuta
O pedido de ajuda,
O grito desta alma aflita?
Talvez não, agora não,
Pois na sua dor insuportável
O seu grito é mudo
Preso no coração.
Enquanto anda, ela arqueja
Em busca de felicidade e alento
Mas só encontra fel e sofrimento
Num oásis de lágrimas e sal,
Martírio, desespero e a penumbra de morte
Circunstancial
Que ronda em derredor
E que lhe conflita
Na ambição de lhe tragar
Neste revoltoso mar
A alma aflita!

[Este post foi composto ao som de Legião Urbana/Eu Fui um Lobisomem Juvenil]

quarta-feira, agosto 28, 2019

Uma prosa crua, em versos

SAUDADE E VÍCIO
(Lucivaldo Silva)

A saudade que chora por dentro de minh’alma
É a mesma que me corrói as entranhas,
Quando de tua lembrança me ocorre lampejos
Em fracas fagulhas de sentimento;
Quando me fazias feliz e era pouco,
Pois o muito que me davas era teu amor
Que alimentava meu ego iludido.

O vício que me cega tem um nome
Que te ti emana igual virtude,
Mas que em mim se traduz em dor e sofrimento
Perenes, enquanto forte;
Agudos, como a tua vida e a minha
Em lados confusos, em ângulos opostos,
E agora em angústia e em versos com triste fim.

[Este post foi composto ao som de Moby/Isolate]

domingo, fevereiro 11, 2018

Uma prosa crua

DORES D'OUTRORA
(Lucivaldo Silva, com inspiração adicional[*])

Nada me completa. Nada me satisfaz. Me sinto só em meio a todos. Não finjo mais, não me pergunte se estou bem, pois cansei de fingir alegria, enquanto a tristeza só me corrói por dentro. Às vezes anseio por uma palavra amiga, algo que dê conforto e consolo e me dê forças pra prosseguir lutando; mas parece que de madrugada as coisas fazem mais sentido, se tornam mais perceptíveis e as convicções se tornam bem mais reais. Aí nada mais faz sentido, pois é quando o passado submerge das ondas do esquecimento, rompendo o peito e trazendo todas aquelas dores d'outrora, uma amargura sem tamanho na alma, nessas madrugadas vazias, melancólicas, nostálgicas e atormentadoras.

[Este post foi composto ao som de Depeche Mode/Enjoy the Silence]

terça-feira, janeiro 31, 2017

Senador Pompeu, uma cidade bela

Nasci e me criei no sertão cearense, município de Senador Pompeu, cujo nome foi herdado de um político cearense do século XIX, Tomás Pompeu de Sousa Brasil, cidade que a exemplo de muitos de nós, aprendi a ter um amor especial, um bem-querer que atravessa décadas, um apego eterno. Quando em visita a alguma cidade e até mesmo nos fatos cotidianos que perfazem minha trajetória pessoal e profissional na cidade de Caucaia/CE, onde passei a fixar residência, imediatamente me vem à memória o meu torrão, a minha gente, juntamente com as lembranças agradáveis de infância. Tudo isso, aliado à carga histórica que toda cidade carrega, me leva a concordar que não poderia ser diferente ao discorrer sobre o bom e o belo na minha cidade. Felicidade com saudosismo são os sentimentos que traduzem imediatamente tais lembranças, e elas permanecem e permanecerão sempre vivas em meus devaneios.
Tendo em vista que o conceito de bom e belo está estreitamente relacionado com o estudo da estética e também por consequência ao conceito e prática da arte e das manifestações artísticas ligadas àquele objeto a qual passamos a discorrer, se torna de bom alvitre fazer uma pequena exposição do que de bom e belo poderemos encontrar em uma cidade sertaneja e interiorana, onde a religiosidade dita as ações e é a palavra definitiva em quase todos os atos, a exemplo até de muitos municípios de nosso Estado. Aproveitando este mesmo momento para me alongar e explicitar o viés e a carga mística que percebo em cada festividade e ato solene de veneração, e quando me empenho a fazer uma análise mais apurada sobre a beleza de determinadas expressões artísticas, principalmente as ligadas à religiosidade, é que enfatizo com mais tenacidade o quão importante é percebermos a importância de tais aspectos na reflexão sobre a beleza e a virtude.
As festividades de cunho religioso, assim como a ministração de missas e cultos, carrega uma expressão bem peculiar do cidadão que tem na alma e no sangue o desejo, mesmo que latente, de servir verdadeiramente a um Deus cujas ordenanças norteiam os atos de cada indivíduo. Quando partimos do sujeito e o colocamos em contato com essas típicas manifestações coletivas de fé, estaremos nos referindo também ao empenho em fazer destaque, e por consequência em fazer belo cada evento que se tornará ímpar nas recordações de cada um que presencia e/ou que dele participa, juntamente com a boa recordação de uma hospitalidade e calor humano típicos de uma cidade do interior.
Fazendo o recorte desta exposição e transpondo estas ideias para o ambiente interiorano da cidade de Senador Pompeu, é importante frisar o quão relevante é para a população tornar belos os objetos, monumentos, construções e manifestações religiosas, e o esforço despendido para isso. O município de Senador Pompeu é, a exemplo de toda cidade do interior cearense, construída em torno de uma Igreja Matriz, cujos alicerces e magnitude rivalizam com os das cidades circunvizinhas. Tem por nome a Matriz de Nossa Senhora das Dores, e sua atratividade rivaliza somente com a beleza da estação ferroviária local, de construção centenária, e que se encontra preservada pela sociedade organizada da região.
A teatralidade e a expressão religiosa típicas em eventos como a encenação da morte e ressurreição de Jesus Cristo, ou a tradicional Caminhada da Seca, junto com a arquitetura e a simplicidade belas desta querida cidade se sobrepõem ao sofrimento proveniente da falta de recursos, ao descaso das autoridades, ao vandalismo e a violência que permeiam muitos, senão todos, municípios de nosso Estado. A saudade da casa, do bairro e do município queridos se torna uma bela recordação de toda uma infância vivida sob a proteção de uma família modesta, porém abastada de valores morais e espirituais que verdadeiramente enriqueceu e enriquece minha formação como filho natural desta terra e como cidadão do mundo.

sexta-feira, julho 24, 2015

Uma vida virtuosa

A VIRTUDE DA VIDA
(Lucivaldo Silva)

Então amanheceu.
Devagar apercebi-me que flutuava,
Vagava sereno em tranquilidade
Ante toda revolta, toda maldade,
Lamentação.
De tudo isso extrai a seiva,
O supra sumo do vício e da dor,
Fel de amargura e desamor
Imerso em tudo o que antes era mau.
Gastei toda vã inspiração e pus
Uma pedra em terra desconhecida.
Ergui no Vale da Virtude da Vida
Igual monumento em veneração,
Reconhecimento pleno de realização,
Erigido que foi em marfim e jade
Do mais nobre e fiel dos sentimentos,
Obtido a partir de uma fiel amizade!

[Este post foi composto ao som de Almir Sater/Tocando em Frente]

quinta-feira, junho 25, 2015

Poema de infância

MERO ACASO
(Lucivaldo Silva)

Uma triste casa vazia,
Mergulhada na escuridão sombria;
E eu, no interior dela...
Cansado, triste, abatido,
Pela melancolia vencido,
Transparecido, mas pela esperança confortado.
Gritei, mas o eco de minhas palavras
Perdeu-se no ar sombrio e gelado
Daquela sala escura,
Triste quarto amordaçado.
Sentei-me em um canto indeterminado
Daquela alcova triste e sofrida.
Fiquei por um momento desesperado
E amarrado a uma lembrança esquecida.
A longe, ainda se ouvia
Uma música, o som de uma canção...
Quando olhei em volta e conclui
Que um mero acaso assim me assentia:
"Vai, olha e vê como está claro o dia
Para um jovem preso pela solidão!"

[Este post foi composto ao som de Legião Urbana/Vento no Litoral]

quinta-feira, maio 21, 2015

Entre Depressão & Esquizofrenia

ESQUIZOPOESIA
(Lucivaldo Silva)

Ingratidão e inconstância,
Incompreensão e distância.
A doença que ronda e atinge,
A peste que sonda e restringe;
A angústia que insiste em sobreviver
No mais íntimo escuro do ser.
Assim está bom pra você?

A luz que apareceu e foi embora,
A visão de uma infância d'outrora
Inesquecível que não mais vai voltar;
A boa vontade que virou mal-estar,
A desesperada vontade de viver,
O maldito resígnio que sobrevêm ao morrer.
Assim está bom pra você?

A saúde que vem visitar
O enfermo que está a arquejar,
A fina e fria esperança moribunda
Envolta em alegria nauseabunda
Que já não é nada, é não-sei-o-quê,
Já não mais acaba com o sofrer.
Assim está bom pra você?

A alegria falsa de um falso amigo,
A modesta sensação de que não há perigo
Em embriagar-se com doce veneno,
Trancado em cubículo tão pequeno,
Já não consegue baixar nem emudecer
A voz que insiste em dizer:
E aí, foi bom pra você?

[Este post foi composto sem trilha sonora]

domingo, abril 19, 2015

Corpo vazio

CORPO VAZIO
(Lucivaldo Silva)

Em um corpo vazio
De sentimentos
Vaza sabedoria,
Vaza melancolia,
Talvez até alegria
À minha regalia
De poeta gentio.
De maneira gentil,
Eu saborearia
Este corpo vazio
Em andrajos sarnentos,
Em outros momentos,
Em grunhidos lamentos
De pervertido cio.
Talvez até viraria
Uma alegoria
À minha revelia,
Um poeta sutil,
Se não fosse sombrio
Este corpo vazio,
Esta hipocondria.
Este amargo arrepio
Que anuncia o dia
De meus passamentos:
Mortes anunciadas,
Noites passadas,
Amarguras guardadas,
Tristes momentos
Compondo pobres fragmentos,
Esta reles poesia,
Uma inspiração vazia
Em um corpo vazio
De sentimentos
Que vaza sabedoria,
Que vaza melancolia,
Talvez até alegria
à minha regalia
De poeta gentil!

[Este post foi composto ao som de Le Youth/Real (Tough Love Remix)]

terça-feira, março 31, 2015

Trova bem preparada

DISPOSIÇÃO
(Lucivaldo Silva)

Sonhando de olhos abertos,
Correndo de olhos fechados,
Estamos bem preparados
Nadando em mares incertos!

[Este post foi composto ao som de Le Youth/Real]

domingo, fevereiro 08, 2015

Súbito Nirvana

SÚBITO NIRVANA
(Lucivaldo Silva)

Preso em um corpo terreno, terrestre,
Cheio de imperfeições, impuro,
Anelo por navegar por mares tranquilos,
Por alcançar esta paz interior tão desejada.
Ninguém poderá perceber, nem ter sensação semelhante,
Somente quando escutar esta música, este poema,
A sinfonia de minh'alma, enfim liberta.
Tal proeza será íngreme, nunca ínfima;
Será de um esplendor nunca alcançado,
Nunca vivido.
Quando este dia tão almejado eu alcançar,
Enfim poderei atingir o ápice,
O cúmulo, o topo,
A mais alta escala da mais pura imensidão
De tudo o que tentei conseguir, enquanto humano.
De anjo poderei ter asas e a permissão,
Pois esta é a promessa,
A divina promessa, então concedida a mim,
Todo o meu bem-querer,
Tudo o que quero e almejo ardentemente,
Todo o meu anseio.

[Este post foi composto ao som de Era/Sinfoni Deo]

quinta-feira, fevereiro 05, 2015

O terrível mundo hodierno!

O TERRÍVEL MUNDO HODIERNO
(J. Udine Vasconcelos)

O mundo, vil, está terrível, perverso.
Há, no ar, alguma coisa apocalíptica.
Perdoem-me lastimar, neste meu verso,
Essa fúria do orbe, sifilítica.
Algo de Mal atinge o Universo.
O homem age com conduta críptica,
E se oculta, obscuro, e faz-se adverso
Às coisas do Bem, em sua forma analítica...
Seqüestros, atentados, explosões;
Estupros, roubos e corrupções,
Impudicícias, sexo e drogas, mais
Outras coisas, à moda Satanás,
A eliminar a Paz, sonhos, poesias,
Neste mundo atroz, de faces sombrias!

(Originalmente publicado no seu facebook em 03/02/2015)

quinta-feira, janeiro 01, 2015

Crônica de Ano Novo

UMA MENTE INCAUTA
[Dedicada à memória do Poeta Mário Gomes]
(Lucivaldo Silva)

Quem se interessa, quem se importa com os sentimentos dos outros neste mundo globalizado, de pessoas apressadas, fixadas em seus sentimentos, necessidades, supostas verdades, oportunidades, conquistas, prazeres imediatos?
O ser humano é vil, pobre alma mesquinha em busca de um abrigo, de um porto seguro. Estarei sendo injusto com o mundo, mas serei justo o suficiente em me retratar, à medida que conheço e reconheço almas com a essência da humildade, solidariedade e perdão verdadeiros.
O que há de mais comum é encontrar pessoas interessantes, porém interessadas em outros assuntos que não condizem nem dizem respeito a uma franca e saudável interação. Tudo tem se tornado cinza, e o amor e amizade genuínos estão em decadência vertiginosa, engolidos pela maldade e crueldade humanas. Amarga decepção, acentuada tristeza e melancolia profunda desabam assim nos pensamentos já fragilizados duma mente incauta de pretenso poeta, um ser em busca de um sentido para continuar a existir.
Traição, tormento, agonia, dor e maligna solidão serão seus companheiros, d'antanhos amigos que retornaram mais fortalecidos de uma longa jornada negra no vazio da depressão.

[Este post foi composto ao som de Legião Urbana/Perfeição]
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